julho e agosto 2020
segunda a sexta-feira: 10:00h-18:00h
sábados, domingos e feriados : 15:00h-19:00h
setembro e outubro 2020
terça a sexta-feira: 10:00h-18:00h
sábados, domingos e feriados : 15:00h-19:00h
encerra à segunda-feira
Mitos adiados, exposição com fotografias de autoria de Carlos Cardoso, que retratam um douro saudosista e abandonado, salientando a sua permanência nos aspectos físico e geográfico.
A exposição abre no próximo dia 11 de julho na Antiga Cadeia e Tribunal da Relação do Porto, sede do CPF e pode ser visitada até ao dia 1 de novembro de 2020.
Mitos
adiados
Vemos
o Douro com o olhar dos fotógrafos pioneiros: a magnificência dos
socalcos descendo em ondas suaves até ao rio, as pontes e os túneis
de Emílio Biel, o trabalho da vinha e a vindima do seu aprendiz,
Domingos Alvão, as mimosas ou as amendoeiras em flor do turismo do
Estado Novo. Quando a cor chegou, as tonalidades sobrepostas do ouro
dos solstícios e os vermelhos velhos. Este foi e é o Douro mítico,
com os rabelos guiados por marinheiros, a descerem em fila até ao
cais, as pipas rumo aos armazéns de Gaia.
Este
Douro permanece nos postais e nos panfletos de publicidade. Carlos
Cardoso, ano a ano, reconstruiu o Douro de hoje, mantendo a realidade
das suas permanências e mudanças, a preto e branco, entre a memória
das imagens e o seu significado, que só o contraste da sombra e da
luz permitem clarificar.
Quase
imutável no tempo das Eras, as rochas milenárias, o granito do soco
ibérico, o xisto do seu esmagamento tórrido. As lâminas do xisto
desafiaram os homens e forjaram o destino da vinha, são a matriz do
território. O fotógrafo mostra-nos o seu poder, nos caminhos, nos
bloqueios, no chão das amendoeiras e das vinhas, mas também a
matéria prima do seu aproveitamento direto e, aqui e ali, o fracasso
da rocha frente à vegetação ou o signo da permanência na
dependência do divino.
Nesta
base matricial os homens produziram os socalcos à sua medida, depois
os patamares à medida das máquinas. A civilização da comunicação
apropria-se do Douro desde o caminho de ferro e explode com a
rodovia. A paisagem faz-se com vigas de ferro, betão e espirais de
cimento armado dentro de uma figura de velho e novo. Para o
esclarecer, não há cestos para o transporte das uvas e proteção
do vidro : a cultura rodoviária é também a do plástico e do
efémero.
Então,
porque se trata de um olhar fotográfico, uma nova coleção de
imagens transforma o abandono, o desleixo e o desalento em belas
imagens de vestígios, de signos impuros de uma pura saudade.
Define-se
uma unidade visível entre as brechas nas lâminas de xisto, na sua
ilusória solidez e as construções que falam dos níveis técnicos
da cultura do homem. Ambas se esboroam, se cobrem de ervas daninhas,
se rasgam sob o impulso vital das árvores: ambas falam de um
pretérito e de um presente em mudança. As camadas de xisto
desmantelam-se como as linhas do caminho de ferro, definindo novas
camadas de chão. As estações abandonadas, criadas para afirmarem o
seu portuguesismo, são invadidas pelo mato e pela desolação. Por
vezes cruzam-se os dois mundos do velho recente e do novo, na
geometria dos equipamentos, mas sempre, sempre a geometria maior são
os montes que reduzem a mera cicatriz a estrada que os rasga.
Este
Douro construído, marcado e sofrido está condenado a ser um
deslumbramento.
O
ondulado matricial das serras é aprofundado com as linhas
concêntricas e as verticais muito brancas dos patamares; os
precipícios, os xistos estrelados de luzeiros, a estrada real do rio
tornaram-se sistemáticas apropriações do homem. Mas um miradouro
das alturas, um banco de descanso repintado, as quintas multiplicando
a qualidade do vinho são outras respostas ao que a Natureza oferece
ou nega: a Natureza é indiferente ao homem, indiferente a si, como
conceito. A tensão entre o espírito crítico e a saudade ou a
procura da beleza são coisas do homem. É disso que falam estas
imagens.
Maria
do Carmo Serén
Exhibition of photographs by Carlos Cardoso, depicting a nostalgic and forsaken Douro region, highlighting its physical aspects and its geography.
Exposición de fotografías de Carlos Cardoso que retratan un Duero nostálgico y abandonado, resaltando su permanencia en los aspectos físico y geográfico.