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“Esta mostra revela um dos temas mais atuais da fotografia de hoje. Ao fixar o comportamento do público frente a uma oferta institucional, em locais específicos da circulação da cultura, insere-nos num dos problemas a resolver pela sociedade contemporânea, a procura da identidade pessoal. (…)
Maria do Carmo Serén
Esta mostra
revela um dos temas mais atuais da fotografia de hoje. Ao fixar o comportamento
do público frente a uma oferta institucional, em locais específicos da
circulação da cultura, insere-nos num dos problemas a resolver pela sociedade
contemporânea, a procura da identidade pessoal.
Fátima Carvalho
conhece bem o ato de fotografar, sabe insinuar distâncias, ponto de vista,
enquadramentos do todo ou das partes e, acima de tudo, o milésimo de segundo do
corte, o momento em que se encena a magia de um diálogo com a obra. E, bem o
sabemos, a imagem fotográfica vale mais pelo seu polo poético do que uma
qualquer estética.
O que vemos
são situações que significam comportamentos do corpo, inconscientes ou
reprogramados pelo social: a atenção que exige um endurecimento do tronco e uma
breve orientação do olhar, a entrega pela sedução , - os braços caídos e a
imponderabilidade física -, a surpresa incontrolada, a pesquisa partilhada pelo
grupo, enfim, situações onde invariáveis ou invariáveis do comportamento se
revelam com toda a clareza nestas imagens aparentemente limpas e claras.
Observamos
então como das atitudes, nomeadamente a atenção direcionada aprendida como
comportamento numa galeria, (e mesmo aí há o corte com a solenidade do lugar
cultural, a imagem do homem com o cão alheado desse mundo), se passa aos
comportamentos inconscientes que revelam a emoção. A emoção é o que se pode
fotografar, pois é pública, irrompe para gerir a situação do que se olha, cria
a intencionalidade da perceção e mantém-se nela para garantir a aprendizagem e
a sua memória. Na memória não guardamos a adequação do corpo à atenção, mas
apenas as sensações informativas e o estado do corpo. E esse estado do corpo é
tangível pela imagem fotográfica e interpretado como emoção mesmo quando já se
enreda no perceção: a jovem que leva as mãos à cabeça, a partilha da pesquisa
pelas escolares, o reconhecimento de um detalhe, semelhando uma vitória da
confirmação com o apontar sorridente de um indicador, a estranheza da imagem do
quarto vazio atravessado pelo fio de luz elétrica não é só da observadora, é
também nossa.
Traduzir a
sedução pode ser, e é-o nos “Rituais do Ver”, uma outra sedução. Em fotografia
implica mostrar significados sem perder a magia dos significantes, da
indeterminação que abre todas as janelas do sentir.Fátima Carvalho diz-nos que
os rituais do ver são universais mas também diferentes em cada um, mas a
poética que os revela é só mesmo sua.
Maria
do Carmo Serén