Comissariada por João Ribas, Diretor Adjunto e Curador Sénior do Museu de Arte Contemporânea de Serralves.
Desde a segunda metade do século XX que vivemos à sombra de duas nuvens: a nuvem em forma de cogumelo da bomba atómica e a "nuvem” das redes de armazenamento e distribuição de informação. Como foi que a metáfora central da Guerra Fria se tornou a metáfora utópica da atualidade? "Sob as Nuvens” explora o sublime contemporâneo que substituiu o natural e os efeitos e consequências recíprocos dessas duas nuvens na vida e no trabalho, no lazer e no amor, bem como em imagens, corpos e mentes.
As tecnologias do pós-guerra associadas à emergente terceira revolução industria evoluíram de modo a caberem na palma da nossa mão; já não nos limitamos a olhar para imagens, hoje tocamo-las, movimentamo-las, pressionamo-las e arrastamo-las. Onde se situa a fronteira entre o eu e o seu reflexo nos meios de comunicação, entre informação, matéria e consequência? Os efeitos biológicos, económicos, estéticos e políticos de se viver debaixo dessas nuvens assumiu a forma de novas relações entre informação e material, bem como de uma dívida e uma financeirização abstrata cada vez maiores; de natureza mutável do trabalho e do sexo; e de novas relações entre ecrãs, imagens e objetos. Do mesmo modo que as antigas formas de arte tecnologicamente alterada procuravam mitigar os efeitos da mudança – tanto sobre a perceção como sobre a sociedade – muitas das práticas artísticas dos nossos dias confrontam a miríade de interfaces e redes descentralizadas que continuam a forjar e a transformar a vida quotidiana, constituindo novas ligações dinâmicas entre bits e átomos.